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ROGÉRIO DO CARMO
( PORTUGAL )
Morreu ontem à tarde, domingo 5 de abril DE 2020, num Lar de idosos onde se encontrava, na região parisiense, o Poeta Rogério do Carmo, cofundador da Rádio Alfa.
Aquele que no dia 5 de outubro de 1987, nos primeiros estúdios da Rádio Alfa, em Paris 13, foi a primeira voz da estação portuguesa de Paris. Depois fez passar um tema de Amália Rodrigues, da sua coleção pessoal. Começou nesse dia, eram 14h00, a aventura da Rádio Alfa, que criou com Fernando Silva, Artur Silva, Jaime Mendes e Helena Machado, aos quais se juntou António Cardoso.
No último livro de Rogério do Carmo, “Puzzle”, publicado pela Chiado Editora, e que foi apresentado no Consulado Geral de Portugal em Paris, em 729 páginas, o autor apresentou-nos a sua autobiografia. Desde que nasceu até àquele momento, Rogério do Carmo entregou-se ao papel para desabafar de uma forma poética e provocadora com o leitor, contando os principais episódios que marcaram a sua vida desde pequeno. “A intenção é de mostrar que não somos nós que escolhemos as nossas vidas, o nosso destino, a nossa sexualidade, mas sim a natureza. Tive uma vida bastante complicada mas se pudesse começar de novo voltaria a ter a mesma”, declarou na altura.
Rogério do Carmo nasceu no Sobreiro, Freguesia de Mafra, na Casa da Brasileira, no dia 2 de fevereiro de 1935. Era sábado, dia de São Purificado, e quando Rogério lançou o seu primeiro grito de medo, espanto, ou revolta, soaram as doze badaladas do meio dia no relógio da sala.
Nos anos 60, o jovem português decidiu ir para Israel à procura das suas raízes. No livro, fala dos seus pais, descendentes de judeus. “O meu pai trabalhava no Registo Civil e foi despedido por ter ajudado demasiado os Judeus” e foi em Tel Aviv que durante 6 anos viveu plenamente a sua juventude. No regresso, após um salto pela Itália e por Londres, acabou por se instalar em Paris, nos finais dos anos 60.
“Comecei a escrever as minhas memórias, para não me esquecer e poder partilhar mais tarde”, explicou ao LusoJornal. Desconhece-se se vão ser editadas.
Muito agarrado a Portugal, Rogério do Carmo confessava porém que o país das suas raízes era Israel, onde esperava ir morrer. Mas não foi e acabou por ser ceifado pelo novo Coronavirus. Na semana passada foram dados os primeiros sinais de dificuldades para respirar e acabou por falecer este domingo.
Aquando da apresentação do livro em Paris, Rogério do Carmo falou também, com alguma emoção, do filho e dos seus netos que deixou em Israel. “Ele não sabe que eu sou pai dele, mas ao olhar para a cara dele e dos filhos, vi que era muito parecido comigo e estou impaciente para lhe revelar a verdade”. Não deve ter tido oportunidade para o ter feito!
Aliás, o seu primeiro livro de poemas “Sombras”, foi agraciado com o “Prémio Internacional de Poesia Florbela Espanca”, em Paris, em 1991!
Em Mafra, nas paredes da Biblioteca municipal, fica um quadro de D. João V que ele próprio desenhou quando tinha apenas 14 anos de idade.
Folhinha Poética – 2012:
O TINHOSO
Fui parido sem parteira
O destino não me foi nada caridoso!
Na escola não me deram cadeira
Mesmo a mais rafeira
Temendo que eu fora piolhoso!
Na tropa
Não me deram entrada na fileira
Receando meu ar malicioso
E meu corpo garboso
Pusera, de quarentena
Numa caserna pequena
Como se fora contagioso!
Assim
Sem um pataco na algibeira
Vivi o meu sorriso generoso
Vivi uma vida foleira
— E aí o meu maior gozo! —
Vivi como um tinhoso
Mas vivi com entendi
A minha vida inteira!
E caso curioso
Sem religião se m política e sem bandeira!
Fabuloso!!!
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